GTN #5: o medo e o golpe chamado Inovar-Auto contra os carros importados
Há males que vem para bem, já diria o famoso ditado popular.
Mas nem sempre, males, vem para bem. As vezes ele vem para destruir mesmo.
Partindo do pressuposto das temáticas que estamos trabalhando aqui no Conexão
Automotiva GTN, o Inovar-Auto é um desses tipos de males que vem para destruir.
Pelo menos para os carros importados. A ideia tosca de colocar um
imposto de importação 30% do que já era cobrado acionou cobranças de vários
países e chegou até mesmo à Organização Mundial do Comércio, a OMC. Mercados
como União Europeia e Japão chamaram a atenção da organização sobre esse IPI
que não permitia que o consumidor pudesse ter um livre comércio e o seu livre
direito de escolha entre automóveis – atitude que permanece até hoje
assombrando os carros importados e que é um dos motivos que derrubaram as
vendas desse setor no país. E não, em nada tem a ver com os nossos carros
nacionais. Mas não seria mais plausível criar medidas que permitissem que os
carros nacionais estivessem no mesmo patamar de interesse do consumidor ao
invés de querer quebrar o setor dos importados? Não seria mais inteligente o mercado se adequar
ao mesmo padrão internacional e enfim fazer, o Brasil, ser um polo exportador? Eu
acredito que a reposta você tenha em mente. Desde 2012, se passou por três
governantes dessa nação que nada o fizeram para criar medidas que façam que o
Brasil seja um mercado que consiga driblar seus problemas quanto a exportação, principalmente enquanto ninguém se ligar para o Custo Brasil.
Em 2011, o Brasil chegou ao pico de 250 mil unidades de carros
importados à venda aqui. Um número nunca antes alcançado, muito pelo interesse
do consumidor por modelos mais bem construídos, equipados, com um bom
custo/benefício e que despertavam a atenção do mercado. Naquele ano, Volkswagen
Gol, Fiat Uno, Chevrolet Celta, Volkswagen Fox e Fiat Strada foram os cinco
modelos mais vendidos. Sinceramente? Em relação aos cinco carros importados
mais vendidos do mesmo ano, Hyundai i30, Kia Cerato, Kia Soul, Hyundai ix35 e
JAC J3, era uma diferença bem gritante. E não é de se espantar que o consumidor
passasse a querer ter um carro importado, nem que o mais acessível possível. Eram mais
equipados que os nacionais – até mesmo os modelos equivalentes em segmentos. Mas,
o IPI veio e acabou com um mercado que poderia forçar as marcas nacionais a
desenvolverem seus produtos com mais qualidade com o Inovar-Auto. O abalo foi
grande. Em 2012 já teve reflexos nas vendas dos principais carros importados vendidos
no país.
Se o abalo entre os carros já foi grande em alguns exemplos,
entre as marcas a situação fica ainda mais difícil. Para quem ficou, o abalo já
era certo. Mas teve casos de saída do nosso mercado, ou seja, a situação é mais
agravante. A marca mais vendida, entre os importados na época, a Kia, é um dos exemplos
disso. Em dez anos, a marca perdeu 92,6% das vendas! É muito em questão de uma
década. São coisas que acabam com toda uma logística, com redes de
concessionárias, investimentos, quadro de funcionários e uma série de fatores
que acaba gerando um efeito dominó, como cegonheiros e revendedores. No entanto, não foi a Kia que mais perdeu mercado
no país. A Dodge, Effa, JAC e Lifan também perderam ainda mais. E esse reflexo
começa com o Inovar-Auto. Não o bastante, o nosso mercado sofreu com uma debandada
de marcas, tais como: Morris Garage, Smart, Aston Martin,
Bentley, Rely, Shineray, Hafei, Jinbei, Changan e Geely. Ufa. Muitas, não? Mas
não foi apenas o Inovar-Auto não. O mercado caiu nas vendas durante a vigência
do programa, tanto que o Brasil passou de 3,6 milhões em 2012 para cerca de
1,9 milhão de unidades em 2016. As vendas até voltaram a crescer, mas a pandemia
trouxe os números novamente para esse patamar.
Mas inegavelmente que tudo isso começou com uma medida burra
do Governo Federal (que se mantém até hoje com alguns resquícios dessa medida
protecionista, como o IPI para importados, que permanece alto), que quis proteger a nossa indústria de um mercado que não
chegava a 10%. Mais precisamente ficava em menos de 7% do mercado, ou seja, era
um nicho e que dificilmente iria "matar" a nossa indústria, como as alarmantes
medidas fizeram. Tanto que Zeca Chaves, jornalista, e o professor de Relações
Internacionais da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Rodrigo Kotz,
destacam no episódio cinco do GTN, que você confere abaixo.
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