CAuto #76: a ascensão e queda do Ford New Fiesta no Brasil


Apresentado oficialmente como um conceito no distante ano de 2007, o Verve Concept antecipava a sexta geração do Fiesta, que seria apresentado em 2008. Ele começou a ser produzido em agosto de 2008 na fábrica de Colônia, na Alemanha. Depois de lá, Espanha, China, Tailândia e México começaram a produzir o novo compacto até 2010. No Brasil, o New Fiesta chegou com três anos de atraso. Aqui, ele chegou em outubro de 2011 na carroceria hatchback e já em abril de 2013 começou a ser produzido em São Bernardo do Campo (SP), já de acordo com o mesmo face-lift aplicado na Europa. Aqui, o hatch chegou depois do sedã e era importado primeiramente do México. O modelo mexicano ficou marcado por fazer o início da transição do RoCam para a nova geração. Essa ponte foi finalizada com a chegada do modelo nacional, em 2013, quando a Ford optou pelo fim de linha do Fiesta Hatch e Sedan RoCam em favor do Ka e Ka Sedan, fazendo com que o Fiesta crescesse de nível no país. A estratégia de nacionalizar a sexta geração do Fiesta tinha dado muito certo. Ele chegou por competitivos R$38.990 e colocou a Ford de volta na briga, pelo menos nesse segmento. O hatch era vendido com motores 1.5 8v e 1.6 16v, com opção de câmbio manual e o PowerShift, que viria a dar dor de cabeça. Mas isso é coisa mais adiante. O Fiesta logo caiu nas graças do consumidor. Contando com o apoio do irmão RoCam até 2014, os números de vendas do Fiesta eram bem animadores. Se este estava “acostumado” a vender uma média de 80 mil unidades anuais, com a chegada do modelo nacional, suas vendas dispararam e colocaram o Fiesta como figura carimbada do Top 10 e em alguns meses até mesmo do Top 5 nas vendas. Com o fim do RoCam, o Fiesta parecia ter um futuro mais calmo, mas ainda assim bastante animador pelo seu preço, que cresceu rapidamente em questão de alguns meses.

O início da crise


Porém, a Ford manteve uma triste realidade no nosso mercado. Manteve o Fiesta com poucas novidades desde então e viu uma concorrência mais madura chegar ao mercado. E pior. Fez com que o hatch continuasse usando o câmbio automático de dupla embreagem PowerShift, causador de dor de cabeça para muitos usuários do compacto, que fez com que a Ford ganhasse diversas reclamações no Reclame Aqui e processos por quebra prematura do câmbio. O mesmo caso atordoou donos do Focus e sabe o que a Ford fez? Isso mesmo, nada! Toda essa consequência fez com que o Fiesta naturalmente desabasse nas vendas. Além disso, o novo Ka, lançado em 2014, colaborou e muito para isso. Enquanto o Ka não era vendido com opção PowerShift, colaborando para que o hatch tivesse uma boa fama no mercado (ao contrário do irmão Fiesta, diga-se de passagem), o Fiesta já parecia estar esquecido dentro do lineup da Ford. Enquanto víamos o Ka brigar com o Hyundai HB20 pela vice-liderança do mercado, o Fiesta começou a entrar num “atoleiro” comercial. A partir de 2012 nós vimos um segmento de compactos mais maduro. Apesar de não serem concorrentes diretos, o Fiesta recebeu Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Toyota Etios em questão de menos de três meses. 


Os três ficaram conhecidos por marcar uma nova fase dos carros nacionais nessa faixa de preço e o Fiesta era um concorrente direto disso tudo. O Onix e o HB20 chegavam com central multimídia como diferencial, fator que contribuiu futuramente para que estes fossem os novos líderes do mercado. O Fiesta manteve a central multimídia SYNC 2, com interface que lembrava mais um computador de bordo do início do século. Esta era consideravelmente inferior por não ser touchscreen e não trazia muitas funções (como conectividade com smartphone, por exemplo) como os rivais. Os anos continuaram a passar. E a Ford via o Fiesta (e também o Focus) sofrer com a má imagem do PowerShift no mercado. Em 2017, a Ford trouxe para o EcoSport o mesmo câmbio do Fusion (ou seja, havia uma solução). Porém no Eco, o motor é o moderno 1.5 12v TiVCT, enquanto no Fiesta deveria ser no 1.6, já que esse motor estreou em questão de meses e a situação do hatch da marca já era bem mais antiga. Tudo indica que já estava planejado que o Fiesta poderia ganhar um upgrade apenas depois da chegada do EcoSport reestilizado, que precisava de mudanças de meia-vida, já que a concorrência nesse segmento estava mais acirrada. Tudo bem para o Fiesta, que ainda não deixava de ser um produto interesse aos olhos do consumidor.

A mudança indesejada


Então, chegamos em 2017. Na Europa, já rodava a sétima geração do Fiesta, que nada mais era que uma evolução da sexta geração, mas com melhorias de acabamento, plataforma, itens de série e tecnologia. De fato, era o que o nosso Fiesta também já começava a pedir. Na apresentação do sétimo Fiesta, em 2016, a Ford tinha confirmado que a América Latina ainda era um mercado onde a nova geração poderia rodar, mas apenas dentro de alguns anos. Com o passar do tempo, começou o boato de que o nosso Fiesta seguiria os passos do europeu, mas de uma forma diferente. Aqui, ele seria vendido com uma mudança caseira, mas com inspiração no modelo vendido na Europa. Que honra! Nós teríamos um carro que, no ponto de vista, já tinha seus 8 anos de projeto e que estava cansando, apesar dele ter feito sucesso mesmo no Brasil a partir de 2013 (que para maioria ainda fazia dele um carro “moderno”). Com isso, o Fiesta ganhava uma mudança sutil, mas as mudanças mecânicas e de acabamento ao menos ainda eram cogitadas. Ufa, o Fiesta enfim deixaria de usar o câmbio PowerShift e poderia se distanciar do Ka no acabamento interno e na lista de equipamentos. Eis que chega seu lançamento.


Nada daquilo que era esperado, chegou nas lojas. Pra dizer que o interior do Fiesta não mudou, o interior recebeu (enfim) uma central multimídia touchscreen e com conectividade, a SYNC 3. Mas essa mudança já chegara tarde demais. Para piorar, no mesmo ano retornava ao mercado o moderno Volkswagen Polo, que envelheceu ainda mais o projeto do Fiesta. Enquanto o Polo chegava nas concessionárias, o já cansado Citroën C3 e o Peugeot 208 ganhavam câmbio automático de 6 velocidades, superior ao PowerShift do Fiesta. E o Honda Fit ganhava um face-lift de meia-vida e seguia como referência de confiabilidade, algo que o Fiesta perdeu nos últimos anos com seu problemático câmbio automático. Por fora, o Fiesta ganhava para-choque dianteiro com uma entrada de ar "a là Aston Martin" ainda maior e com detalhes cromados. Já as laterais dos para-choques ganham um certo parentesco com o EcoSport reestilizado. Há também frisos nas bordas e nas laterais inferiores, envolvendo as molduras dos faróis de neblina, que são novos. Entre as novidades, ele deve trazer novo para-choque traseiro, faróis mais estreitos e com LEDs diurnos, novas rodas de liga leve e novo layout das lanternas. No interior, quase tudo é conhecido: de novo, a central multimídia Sync 3 com tela touch screen de 6,5 polegadas, compatível com Apple CarPlay e Android Auto. Até mesmo as rodas de liga leve continuam as mesmas!

Vendas


É inegável que desde a chegada do Ka, o Fiesta perdeu prioridade dentro da Ford. Mas é um ato injusto para um carro com a história dele no mercado. Vendido desde o final de 1994 no Brasil, o Fiesta já vendeu quase 2 milhões de unidades no país. Importado da Espanha para o Brasil, a "primeira geração" (no Brasil) durou cerca de um ano. Isso por que a nova geração estreou em 1996, já nacional. Em 1999 é introduzido os motores 1.0 e 1.6 RoCam. Em 2001 a Ford começa a importar o Fiesta Sedan. Juntos com o motor RoCam veio um discreto face-lift. Em 2002 é lançada a nova geração do hatch que revoluciona o mercado, com o conceito New Edge. Em 2004 ganha a variante sedã nacionalizada. Em 2006 ganha motores Flex. Em 2007 ganha face-lift e a versão pseudo-aventureira Trail. Em 2010 chega o New Fiesta Sedan do México. Em 2010 hatch e sedã RoCam ganham outro face-lift. Em 2011 chega o New Fiesta Hatch. Em 2013 o New Fiesta Hatch e New Fiesta Sedan ganham face-lift e o hatch começa a ser produzido no Brasil. Em 2014, Fiesta Hatch e Fiesta Sedan RoCam saem de linha, abrindo espaço para a linha Ka. Em 2015 a linha Fiesta soma mais de 1,8 milhão de veículos vendidos no País, incluindo 240.000 unidades do New Fiesta. Em números, o Fiesta saiu de um 2013 com 136.726 unidades para chegar a 40.063 unidades em 2015 e tropeçar em 16.987 unidades em 2016.

O futuro


Se seguir o mesmo caminho da Ford América do Norte, o Fiesta tem tudo para deixar de existir também na América Latina. Porém aqui esse segmento do Fiesta tem se reinventado e tem chances de fazer sucesso, se a Ford quiser. Em janeiro de 2018 a Ford deu um gostinho sobre a nova geração do Ford Fiesta no mercado brasileiro. O hatch teve as primeiras imagens patenteadas no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) mostrando detalhes da carroceria de duas e quatro portas para nosso mercado. O modelo atual, que recebeu face-lift no Brasil, pode servir de apenas uma mudança temporária para não fazer com que o Fiesta perdesse muito terreno. Tradicionalmente a Ford demora cerca de 3 anos até lançar a nova geração do Fiesta no Brasil, mas agora ninguém sabe ao certo o destino do Fiesta para os mercados fora da Europa e América do Norte. Na China, a Ford desenvolve o Fiesta com uma plataforma emergente, a mesma do modelo atual, mas retrabalhada (alongada e mais segura). Com isso, Ford Brasil e Ford China estão tocando o desenvolvimento da adaptação do Fiesta europeu com a mesma plataforma do modelo atual, assim como outros países emergentes, como a Índia. Outro registro que pode deixar o hatch próximo do Brasil é que ele foi registrado no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) e deve ser lançado em meados de 2019, no mais tardar 2020. Isso deve fazer um efeito cascata. Se o Ka deve ganhar upgrade, a nova geração do Fiesta deve ficar mais cara. Aqui possivelmente teremos Fiesta com motor 1.5 12v Dragon do EcoSport, de até 137cv de potência e o 1.0 12v EcoBoost de 125cv de potência, acoplado com câmbio manual de 6 marchas ou automático, com conversor de torque, de mesma quantidade de marchas. Os preços começariam na casa dos R$60 mil. Porém, depois da decisão surpresa da Ford América do Norte, tudo pode ter mudado de novo. E aí Ford. Qual o futuro do Fiesta?

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