GTN #2: a indústria nacional eufórica e a sensação de dejà vú do abandono
Você já teve uma sensação que algo já aconteceu? Eu já tive
isso várias vezes. Você passar por uma sensação que parece ser tão semelhante
com algo do passado, popularmente chamado de “dejá vù”. No dicionário, essa palavra pode ser definida como: “uma
forma de ilusão da memória que leva o indivíduo a crer já ter visto (e, por
ext., já ter vivido) alguma coisa ou situação de fato desconhecida ou nova para
si; paramnésia”, de acordo com a Oxford Languages. Antes de 1998, quando o
Brasil entrou em crise junto com os países asiáticos, liderado por Tailândia,
Coreia do Sul, China e Japão, naquela então crise financeira que atingiu alguns países do mundo, as vendas dos automóveis em 1997 eram altas. A
Volkswagen, Fiat, Chevrolet, Ford e Asia Motors lideravam as vendas em nosso
mercado. Esse bom momento comercial pode ter sido um dos motivos que fizeram
com que marcas premium investissem em fábricas no nosso mercado.
Dentro no setor automotivo, isso também acontece. Um
lançamento que deu errado por um erro de estratégia que se repete, um carro que
vira um “viral automotivo” ou um período da indústria que parece estar
acontecendo novamente.
No Brasil, estamos passando agora mesmo por um desses
momentos de dejá vù. Após marcas como Mercedes-Benz e Audi deixarem de produzir
nas unidades de Iracemápolis (SP) e São José dos Pinhais (PR)... nos lembra
tanto o período em que a Mercedes-Benz deixou de produzir o Classe A em Juiz de
Fora (MG) e São José dos Pinhais (PR). Entre 1998 a 2006, o Brasil ganhou e
perdeu quatro fábricas.
A primeira delas foi a da Dodge, que fazia a Dakota, que foi
produzida em Campo Largo (PR), próximo a capital Curitiba, no Paraná. Ela era
produzida em regime CKD, com peças que vinham semi montadas dos Estados Unidos.
A picape era produzida em três opções de carroceria: Cabine Simples, Cabine
Dupla e Cabine Estendida, com um bom leque de versões. Ela era produzida com
motores 3.9 V6 de 177cv e 39,6kgfm e tinha uma opção mais acessível, o 2.5 16v
a gasolina que entrega 121cv e 20,1kgfm. Depois, a picape recebeu o motor 2.5
Turbo Diesel de 115cv e 30,6kgfm. As baixas vendas fizeram a Chrysler decidiu
por interromper a produção da picape em abril de 2001.
Depois da Dodge, a Land Rover passou a produzir nas instalações da Karmann-Ghia, em São Bernardo do Campo (SP). A produção era quase de boutique, com cerca de 60 unidades ao mês. Ele deixou de ser produzido no final de 2005 (em 23 de dezembro, mais precisamente), depois de quase sete anos sendo um modelo nacional. Lembra quando falamos que a produção era quase de boutique, por ser muito pequena? Assim como uma produção qualquer que é limitada, a coisa pode se tornar ainda mais custosa, produção nacional que deixava o Defender caro – e quebrava a expectativa de que, por ser nacional, seria mais em conta que em importado. Para produzir o Defender, a Land Rover tinha apenas 57 funcionários – que foram demitidos com o fim da produção, quando passou a ser importado novamente em 2006. Em outubro de 2005 já tinha sido definido que a fábrica deixaria de produzir o Defender.
Antes do fim da produção do Defender, a Mercedes-Benz desistiu de produzir o Classe A no Brasil. O “hatchvan” começou a ser produzido aqui em 1º de março de 1999, com a estimada de produzir 70.000 unidades anuais. Bom, esse era o plano. No fim, a Mercedes-Benz produziu cerca de 63 mil unidades do Classe A em seis anos de produção. Menos que um ano de vendas que a alemã previa para nosso mercado. O modelo queria ser um carro popular mas não tinha o preço de um popular. Custando quase R$30 mil na versão mais acessível, o modelo era muito mais caro que um Volkswagen Gol, custando pouco menos de R$18 mil. E vá você dizer que o Mercedes era uma opção melhor custando mais de R$10 mil a mais (lembre-se do caso do Volkswagen up! frente a Renault Kwid e Fiat Mobi), sem contar ainda uma rede de concessionárias muito menor e a fama da marca de ter peças caras. Por aqui, o Classe A estreou com o 1.6 8v gasolina que desenvolvia 99cv e 14,8kgfm, com câmbio manual de 5 marchas. O motor estava dentro da média, tinha conforto, sendo um dos carros compactos mais confortáveis do mercado na época, de acordo com as publicações da época. O carro ainda vinha com uma segurança acima da média, com ABS e ESP de série. No fim, o primeiro Classe A micou no mercado. A fábrica passou a produzir caminhões, meses depois após o fim da produção do carro.
Por fim, a Audi também queria trazer essa sensação de popularizar os carros premium com o A3 e A3 Sportback. O hatch médio era uma opção mais premium ao primo Volkswagen Golf, do qual compartilhava muitas peças base. O A3 até conseguiu ter um bom volume de vendas no mercado, inicialmente, chegando a emplacar mais de mil unidades em alguns meses (como outubro de 2002 com suas 1.078 unidades vendidas e as 9.385 unidades vendidas de 2002). No entanto, nos anos seguintes, o A3 começou a perder mercado. Foram 7.672 unidades em 2003, 5.653 unidades em 2004, 4.333 unidades em 2005 e 2.409 unidades em 2006, último ano da sua produção. Nesse mesmo ano estreava uma nova geração do A3 na Europa, a segunda geração. A queda nas vendas do modelo fizeram com que a Audi tomasse a decisão do modelo vir ao nosso mercado, mas importado. No ano seguinte, menos de 2.000 unidades foram vendidas e o hatch nem figurava mais entre os mais vendidos do segmento.
Não foram apenas as marcas que investiram em fábricas que deixaram o país. Marcas importadas também deixaram nosso mercado nesse período. Asia, Daewoo, Daihatsu e Mazda foram uma das que também deixaram nosso mercado. Abaixo, você confere um trhread sobre alguns dos carros que essas marcas vendiam antes de deixar nosso mercado, entre 1999 a 2002.
#THREAD #GTN 2: a #CriseFinanceira Asiática do final da década de 90 afetou na presença de 4 marcas que operavam no #Brasil: #Asia, #Daewoo, #Daihatsu e #Mazda deixaram o país e nunca mais voltaram. Para alguns, não fazem falta, mas para outros deixam uma legião de fãs. pic.twitter.com/x15GCf0twa
— Conexão Automotiva (@conexaoautobr) March 14, 2021
“Mas qual o paralelo com o momento atual?”, você me perguntaria. Simples. Após um momento de euforia com as vendas dos carros entre 2009 a 2012, algumas marcas retornaram com a produção nacional, investindo em novas unidades no país. Isso fez com que o mercado tivesse, novamente, carros nacionais de Audi, Mercedes-Benz e Land Rover. Hoje, Audi e Mercedes-Benz já deixaram de produzir novamente, com a queda do mercado com a crise interna que se instaurou. Enquanto a Mercedes construiu a unidade de Iracemápolis, no interior de São Paulo, para fazer o sedã Classe C e o GLA, a Audi voltou a produzir o A3, dessa vez na carroceria Sedan, junto com o Q3, na mesma unidade de São José dos Pinhais, que deixou de produzir em 2006. Nove anos depois, a Audi voltava a ser nacional com a dupla. A Jaguar-Land Rover passou a ter uma produção nacional, com fábrica própria, em Itatiaia (RJ). Ainda segue produzindo, apenas o Discovery Sport, quase como uma boutique... com cerca de 80 a 160 unidades produzidas mensais. Já a Chrysler voltou a produzir com a Jeep, em 2015. Essa sim, conseguiu se firmar dessa vez, sobre a bandeira da Fiat-Chrysler, com Jeep Renegade e Compass. Pelo menos uma marca daquelas quatro conseguiram se firmar. Quem sabe isso possa acontecer com as outras três, no futuro.
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