Retrômobilismo#77: Ford Escort, um ícone que viveu ótimos 20 anos no Brasil, marcou época e gera saudades!


A Ford é uma das marcas que mais teve médios no mercado brasileiro. Na verdade, o Escort era um "compacto médio", segmento que hoje podemos dizer que seria os hatchs compactos premiuns, mas ele passou por evoluções nos seus 20 anos de Brasil. Com a chegada da geração conhecida como "carro mundial", o Escort chegava ao Brasil para assumir o posto que seria deixado pelo Corcel, outro que fez muito sucesso no mercado brasileiro. Apresentado na Europa em 1980, o Escort chegava ao Brasil em Agosto de 1983 com a missão de fazer o mesmo sucesso comercial de outros países, algo que ele conseguiu fazer muito bem. No Brasil as opções de carroceria de 2 e 4 portas haviam sido lançadas juntas, algo que foi inédito para o mercado na época, que recebia primeiramente uma opção e algum tempo depois a outra. No Escort, ambas estrearam juntas. Com design atual e agradável aos olhos, o Escort foi muito bem aceito pelo público, e logo caiu nas graças do consumidor.


Com boa aerodinâmica e o interior trazendo um bom acabamento, o Ford Escort tinha garantia contra corrosão de 3 anos, a maior já lançada no país até então. O motor era o único item diferente do modelo europeu. Por aqui ele se beneficiava do velho motor Ford-Renault 1.6 8v que recebeu o sobrenome de CHT, com comandos de válvulas no cabeçote, até mesmo com turbocompressor em algumas versões. O motor era retrabalhado para melhor consumo e menores índices de poluição e desenvolvia 73,4cv de potência com torque de 11,6kgfm quando abastecido com álcool e 65,3cv de potência e torque de 10,6kgfm quando abastecido com gasolina, com câmbio manual de 4 marchas, com opção de 5 marchas. Havia a opção de ter menos potência, reduzindo para 65,5cv e 56,8cv de potência para álcool e gasolina, respectivamente. Eram robustos e bem econômicos.





A suspensão foi revista para o Brasil e suas condições caóticas, sendo independente nas quatro rodas, com rodar macio, a estabilidade era um tanto prejudicada. A direção, leve, arrancava sorrisos dos proprietários. Outros pontos positivos do Escort eram a visibilidade, bons freios e baixo nível de ruído, muito melhor aos carros da época. O Escort mais básica era equipado com motor 1.35 a álcool e trazia bom desempenho com sua proposta. Dois meses após o lançamentos, a Ford lançava a versão topo de linha Ghia, que trazia itens mais refinados como controle elétrico dos vidros dianteiros e travas, lavador do para-brisa com intervalo ajustável, relógio digital, luzes de aviso para desgaste das pastilhas de freio e consumo de combustível, óleo do motor, líquido do arrefecimento, entre outros. Teto solar era oferecido como opcional. O motor era o mesmo 1.6, mas com 5 marchas de série.


No final de 1983 era lançado o XR3, que significa Experimental Rasearch 3, ou pesquisa experimental 3, era um logo que mexia com a cabeça dos jovens, com seu apelo esportivo e descolado. Entre os destaques visuais estavam defletor dianteiro, aerofólio, rodas de liga leve com aro 14" polegadas, teto solar de vidro, faróis de longo alcance, bancos esportivos, volante com diâmetro menor e painel bem equipado. O ar-condicionado era um opcional que chegaria alguns meses depois. O motor era o 1.6 a álcool, que trazia mudanças nas válvulas, carburador, dutos de admissão e curva de ignição, além de câmbio manual de 5 marchas fechado. Com isso a potência subia para 82,9cv de potência e torque aumentava para 12,8kgfm, trazendo um desempenho modesto, apenas. Nos anos seguintes, a Ford promoveu várias mudanças no XR3 para desenvolver melhor, o que foi melhorando sua potência, torque e alegria dos consumidores mais esportivos. Ganhava molas mais firmes, freios dianteiros a disco ventilado e direção com respostas mais rápidas. Em Abril de 1985 era lançado o Escort XR3 Conversível, se tornando o primeiro carro sem capota brasileiro desde o Volkswagen Karmann-Ghia, porém era caro e exigia cuidados com a capota de lona.


Mais pesado, o desempenho ficava mais acanhado, já que era 70kg mais pesado que o hatch, mas mesmo assim vazia a cabeça dos consumidores. Já em Agosto de 1986 o Escort recebia a mesma mudança no visual  do modelo europeu. As linhas mais modernas e para-choques inteiriços, de plástico, traziam um visual mais moderno, mesmo que o Escort ainda tivesse um ar de novidade no mercado brasileiro. O interior ganhava apenas novas luzes do painel, que passavam a ser por trás dos números. As travas das portas se uniam as maçanetas internas, entre outros. Por fora, além dos para-choques e grade dianteira, o novo Escort trazia novos faróis, lanternas e novas calotas e rodas de liga. No mesmo ano, a carroceria de 5 portas e o motor 1.35 da versão de entrada davam adeus ao mercado brasileiro. O motor 1.6 ganhava pistões, anéis e virabrequins mais leves, que elevavam a potência a 2cv a mais e 4cv a mais no XR3, reduzindo o consumo. Os amortecedores, passavam a ser pressurizados, algo inédito no Brasil, além de estabilizador na traseira.


Em 1988 ele recebia novo tanque de combustível, de plástico e a capacidade do mesmo crescia de 48 para 65 litros. Em Maio de 1989, após quase dois anos da AutoLatina (unia da Ford com a Volkswagen), a Ford lançava nas versões Ghia e XR3 (hatch e conversível), os motores 1.8 AP da Volkswagen, mais modernos e eficientes, desenvolviam 87cv de potência e torque de 15,2kgfm a (Ghia - gasolina) e 99cv e torque de 16kgfm (Ghia e XR3 - álcool), que colocado no modo transversal, desenvolvia mais que os próprios modelos da VW. O Ghia ainda recebia o uso de marchas mais longas e com maiores espaços, através do sistema 4+E, presente no Volkswagen Voyage desde 1983, melhorando o índice de consumo e diminuindo o ruído interno. Com a adoção do logo 1.8 atrás, o Escort ainda recebia pequenas novidades, como novas rodas de liga leve, luzes de direção dianteira incolores e o XR3 trazia saias laterais e novas molduras no arco dos para-lamas. Em 1990 os para-choques eram redesenhados e o aerofólio do XR3 era novo. Além disso, o esportivo recebia acionamento eletroidráulico da capota, com comando por botão, localizado no painel.


Já meio desatualizado no mercado, o Escort ganhava a série especial Fórmula em 1991, que trazia amortecedores Cofap, ajustáveis com controle eletrônico, que variavam entre deixar mais mole e endurecer os amortecedores, algo pioneiro no país. A série especial trazia ainda bancos Recaro com regulagem de altura, apoios lombar e lateral. Após o fim da série, os mesmos amortecedores eram opcionais para o XR3 em 1992. No final de 1991 chegava o Escort Guarujá, a versão de 5 portas que voltava ao mercado depois de 5 anos ausente, era vendido apenas com motor 1.8 a gasolina. Durou apenas um ano no mercado, pela má-fama que os modelos argentinos tinham. Depois de 9 anos de mercado, a Ford decidiu mostrar a nova geração do Escort durante o Salão do Automóvel de São Paulo em 1992, quando ele chegava a quarta geração para os europeus e a nossa segunda geração do hatch. Mais moderno e bonito, o Escort mantinha o meio volume traseiro, algo que se tornou típico de seu perfil e tinha design mais bem definido, que recebia um maior espaço interno graças ao entre-eixos 12cm maior e a aerodinâmica também voltava a ser uma das melhores do país.


As versões não sofriam mudanças e recebiam o mesmo padrão de nomenclatura do modelo anterior: L, GL, Ghia e XR3. Como "lançamento", era lançado o Escort Hobby, opção de entrada, que permanecia como a antiga geração, com motor 1.6. O motor 1.8 AP da Volks recebia um novo carburador com controle eletrônico de marcha-lenta e o câmbio adotava comando por cabos flexíveis. Suspensão dianteira era aperfeiçoada e a traseira recebia eixo de torção. A direção não era assistida, mas inovava ao trazer relação variável. Entre as novidades do XR3 estavam os faróis de duplo refletor e faróis de neblina, também novos. O XR3 conversível acompanhava as mudanças do hatch e trazia pela primeira vez, a mesma traseira. Os modelos esportivos recebiam o novo motor 2.0 8v AP da Volkswagen, o mesmo usado pelo Gol GTI, que desenvolvia 115,5cv de potência e torque de 17,6kgfm de força, com câmbio manual de 5 marchas, trazia ainda, freios a disco nas quatro rodas e calibração mais firme da suspensão. A versão Ghia receberia o mesmo motor, mas sem injeção.


O plano do governo em lançar os "carros populares" em 1993, dava esperança a Ford em lançar sua versão do novo Gol, que seria lançado em 1994 e no qual nunca aconteceu, fazendo a Ford adaptar o motor 1.0 do Gol que desenvolvia 50cv de potência, chamado agora apenas de Hobby. Em 1994 o Ghia recebia injeção eletrônica no motor 2.0 8v AP da VW, além de itens como rádio/CD com equalizador, mesmos itens que passavam a ser de série no XR3. Já o esportivo ganhava a nova injeção eletrônica da FIC, digital e com sensor de oxigênio. Os motores 1.6 e 1.8 também recebiam a mesma injeção. Com ela, o XR3 passava a oferecer 122,4cv e torque de 18,4kgfm. Em 1995 o esportivo recebia mais retoques no visual. O modelo ganhava novas rodas com cinco raios, frisos externos pretos e ajuste de altura do volante, sendo que o mesmo também era novo. Em 1996, em virtude de abrir espaço para o Fiesta no Brasil, o Escort passava ser feito em Pacheco, na Argentina, onde ganhava nova grade frontal oval, onde as versões XR3 (hatch e conversível), Ghia e Hobby deixava de ser oferecida, permanecendo apenas o hatch "normal".


O modelo fabricado na Argentina, além de visual diferenciado pela volta da grade dianteira, recebia para-choques da cor do carro. Apesar de gosto duvidoso, quem sabe o principal erro da Ford foi ter feito essa mudança a 6 meses da estreia da nova geração do Escort, chamada na Europa de MkVII. A terceira geração do Escort no Brasil ganhava o apelido de "Zetec", nome do motor inglês que no Brasil marcava o fim da Autolatina. Trazia motor 1.8 16v com duplo comando e injeção multiponto, desenvolvia 115cv de potência e torque de 16,3kgfm de força, com câmbio manual de 5 marchas, também de origem Ford. Era mais esperto e suave que o antigo motor 2.0 AP, que trazia força ao Escort de 5 portas (único, já que o 3 portas só voltaria em 1998), além do seu sedã, que foi rebatizado de Verona para "Escort Sedan". As versões oferecidas eram a GL e GLX. Na terceira geração, o Escort ganha linhas arredondadas, como novos faróis, lanternas que invadiam a tampa do porta-malas, para-choque dianteiro e traseiro, novos retrovisores, grade, capô, rodas e o inédito pisca lateral, localizado no para-lama.


A estrutura se manteve a mesma, tanto que é possível observar que o Escort de 1992 possui as mesmas portas do modelo de 1996. O interior também remedia a detalhes "ovais", padrão visual da Ford na época - vide o Ford Taurus, americano que chegou a ser importado ao Brasil. O modelo de 3 portas voltava a ser oferecido em 1998, além da versão básica GL e da versão esportiva RS. Pena que a versão "esportiva" só trazia rodas, saias laterais e aerofólio para destacar a versão mais esportiva. Já meio cansado, o Escort ganhava em 1999 na versão GLX, grade e moldura da placa traseira cromadas e controle elétrico dos vidros traseiros. A última cartada do Escort foi lançada em Agosto de 2000, quando ganhou a opção de motor 1.6 8v Zetec RoCam, que desenvolvia 95cv de potência e torque de 14,2kgfm de força, deu um ânimo nas vendas do Escort diante do Focus, que seria lançado logo em seguida.


Ainda em 2000, as versões sedã e a 3 portas do Escort davam adeus ao mercado brasileiro, permanecendo apenas o Escort 5 portas com opção de motores 1.6 8v e 1.8 16v. Isso já mostrava o tão que o Escort estava perdendo suas energias no Brasil. No mesmo ano, ele saía de cena na Europa em Julho, após comercializar mais de 20.000.000 de unidades. Os únicos países que continuavam a fabricar o Escort era a Argentina e o México. Lançado em 2001, o Focus começava a sua carreira no Brasil e já abocanhava as vendas do Escort, que conviveu por mais dois anos com o sucessor, até que em 2003 deixou de ser produzido na Argentina, deixando assim, de ser trazido ao Brasil, depois de longos 20 anos de Brasil. Uma pena a Ford ter desistido do hatch, que poderia ter vivido por mais tempo. Em 2014, foi lançado na China o novo Escort, um sedã que ainda não se sabe se chagará ao Brasil.



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